Para responder à emergência em saúde pública decorrente da pandemia causada pelo novo coronavírus, a Universidade Estadual Paulista (Unesp) criou o Comitê Científico Unesp COVID-19, presidido pela assessora da Pró-Reitoria de Pesquisa (Prope) da instituição, professora Célia Regina Nogueira.

O objetivo é agregar todas as pesquisas desenvolvidas ou que estão sendo estruturadas na Unesp, no sentido de encontrar respostas de curto, médio e longo prazos que contribuam para a prevenção e o combate à doença.

“Essa coordenação impulsionará os projetos existentes e estimulará a formação de novas redes de pesquisa, além de prospectar competências em todas as áreas do conhecimento para trabalhar de forma transversal”, explica a presidente do comitê.

Grupos de pesquisa dos diversos campus da Unesp se estruturam e, no momento, existem cerca de 40 pesquisadores, de várias unidades da universidade trabalhando na investigação clínica e epidemiológica da COVID-19 e em outras frentes científicas.

O professor da Faculdade de Medicina da Unesp, do campus de Botucatu, Carlos Magno Castelo Branco Fortaleza é infectologista e epidemiologista e membro do Comitê de Contingenciamento do Estado de São Paulo na área de controle e prevenção ao coronavírus. Ele destaca ainda outras duas linhas de pesquisa: a busca ativa por meio de sistemas de informação que utilizam a mineração de dados e inteligência artificial para prever o que acontecerá nos próximos dias. Já a segunda consiste na rede de pesquisadores que começa a se formar para estudar a resiliência das pessoas durante este período de isolamento social.

“É a Unesp unindo forças como instituição, para reiterar nossa função social, uma vez que existe um clamor da sociedade para que a universidade produza pesquisa de resultados rápidos. Por isso, além das ciências médicas, biológicas, matemáticas e geográficas, também precisamos de antropólogos, historiadores e psicólogos para que nos ajude a entender o comportamento humano em situações de quarentena. Vivemos um momento em que é preciso tomar medidas drásticas a partir de evidências científicas pouco estruturadas”, analisa o epidemiologista.

Rede

A Unesp também se organiza para constituir uma rede de diagnóstico do novo coronavírus. Com o avanço e a disseminação da doença na cidade de São Paulo e no Brasil, existe a preocupação com a chegada da doença ao interior do Estado.

Para isso, a universidade utilizará o parque tecnológico instalado em diversas unidades que cobrem as regiões do Estado, o que pode ser visto como uma vantagem para a identificação rápida dos casos.

Nesse sentido, um grupo de docentes e pesquisadores das unidades do campus de Botucatu e do Hospital das Clínicas da mesma cidade estão trabalhando na construção de uma metodologia padronizada que detecte a presença do vírus por Polymerase Chain Reaction (PCR) ou Reação em Cadeia da Polimerase em Tempo Real.

“O diagnóstico precoce vem se mostrando uma estratégia efetiva no controle da pandemia quando se observam os países que a adotaram”, aponta Célia Regina Nogueira.

Assistência

A assistência à população também entrou no radar da Faculdade de Medicina da Unesp e do Hospital das Clínicas de Botucatu antes mesmo do primeiro caso confirmado no interior de São Paulo. A preparação para o que pode vir começou há 45 dias, com a montagem de um time de resposta clínica à COVID-19, com especialistas da infectologia, clínica médica geral, pneumologia e profissionais da Emergência e do Setor de Terapia Intensiva do HC.

“Juntos com a superintendência do hospital, construímos um protocolo científico no atendimento da assistência para o manejo clínico do paciente com COVID-19, desde o ambulatório, passando pela internação até chegar à UTI, nos casos mais graves”, explica o chefe do Serviço de Infectologia do HC e do Departamento de Infectologia da Faculdade de Medicina, professor Alexandre Naime Barbosa.

Também foram realizadas ações estruturais. Todas as consultas eletivas foram suspensas e todo o quarto andar do prédio novo do Hospital das Clínicas, com 20 consultórios, foi alocado para atendimento ambulatorial de pacientes com coronavírus. Internações e cirurgias eletivas também foram desmarcadas para aumentar o número de leitos, tanto de enfermaria quanto de UTI, que aumentou a capacidade instalada em 100%.

Observatório

Outra frente científica aberta pela Unesp neste momento foi a criação, em parceria com pesquisadores de outras universidades, do Observatório COVID-19, que está ajudando a compreender a evolução da pandemia no Brasil, por meio de modelos matemáticos.

Liderada pelo pesquisador Roberto Kraenkel, a iniciativa já alertou as autoridades de saúde, na semana passada, que o ritmo da disseminação do novo coronavírus no Brasil estava igual ao da Itália, o que foi amplamente divulgado pela mídia. Dias depois, o Governo de São Paulo anunciou a quarentena para todo o Estado.

“Do ponto de vista da saúde pública, essa fase inicial é o momento de agir, e agir o quanto antes, para tentar desacelerar o ritmo de crescimento da epidemia e reduzir a altura do pico para o nível mais baixo possível, tornando a curva achatada”, afirmou o físico Roberto Kraenkel à reportagem da Revista Pesquisa Fapesp.

Participam da iniciativa do Observatório COVID-19 físicos da Unesp, USP, Unicamp, UnB (Universidade de Brasília), UFABC (Universidade Federal do ABC), Universidade de Berkeley (nos Estados Unidos) e Universidade de Oldenburg (na Alemanha).

Outros dois grupos da Unesp trabalham com modelos matemáticos para monitorar a evolução da pandemia. Um deles, do qual faz parte o professor Raul Borges Guimarães, da Faculdade de Ciências e Tecnologia (FCT), do campus de Presidente Prudente, está construindo mapas que detalham possíveis rotas de dispersão da COVID-19 pelo interior paulista.

“Como a Unesp está presente em 24 cidades paulistas, com campus em praticamente todas as regiões administrativas do Estado de São Paulo, esse foco no interior é um diferencial da universidade nesse sentido. São mais de 20 milhões de pessoas que vivem no interior paulista”, afirma a professora Célia Regina Nogueira.

A professora e pesquisadora Paula Rahal, do campus de São José do Rio Preto, é a vice-presidente do Comitê Científico Unesp COVID-19.

Fonte: unesp.br